DozeArtes

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Retratos de um génio



Picasso entrou para o Guiness como o pintor que mais pintou, até morrer aos 91 anos. Foi também dos mais fotografados. As câmaras adoravam a sua vida boémia e as suas mulheres.

Pablo Diogo José de Paula Juan Nepomuceno Maria de los Remédios Crispín Cristiano Santíssima Trinidad Ruiz Picasso nasceu em Málaga, Espanha 25 de Outubro de 1881.era um recém-nascido sem força sequer para chorar e julgou-se que não vingaria. Ninguém previa que aquela criança débil entraria para o livro dos recordes do Guiness como o mais enérgico dos pintores: Picasso fez 13.500 desenhos e pinturas, 100 mil impressões ou gravações, 34 mil ilustrações de livros e 300 esculturas e peças de cerâmica. No dia do seu nascimento, foi seu tio Salvador quem, ao soprar-lhe fumo de cigarro, o obrigou a gritar, reanimando-o.
D. José Ruiz Blasco, seu pai, também era pintor. De uma respeitável família de Leão, casara-se em 1890 com D. Maria Picasso Lopez, uma andaluza com sangue árabe. Da união nasceram mais dois filhos: Dolores e Concepcíon. Pela mão de D. José, o pequeno Pablo iniciou-se na pintura. Ficou conhecido como Picasso, nome que passou a usar em 1901, quando, já artista profissional, começou a assinar telas. Em 1888, foi a uma tourada e fez a sua primeira obra: El Picador. Tinha 8 anos.
Em 1891, já na Corunha, ajudava o pai a terminar algumas telas. Ainda não tinha 13 anos quando aquele lhe reconheceu o génio. Passou-lhe o testemunho e entregou-lhe a sua paleta e pincéis. D. José não voltou a pintar.
Com 15 anos, Picasso expôs uma obra no Salão de Barcelona, A Primeira Comunhão.
Instalou-se num atelier com Manuel Pallarés e deu início a uma das mais produtivas carreiras da história da arte. Barcelona era m reduto dos artistas da vanguarda e Picasso sofreu a influência. Mas também soube influenciar. No café Els Quatro Gats partilhava noites de boémia com os pintores Miro e Casagemas e o escritor Jaime Sabastés – que se tornou, mais tarde, seu secretário particular.


Em 1900, visitou Paris e o negociante de arte Pedro Mañach ofereceu-lhe um contrato de 150 francos por mês. Na primeira exposição que fez na cidade, vendeu 15 dos seus 65 trabalhos expostos ainda antes da inauguração. Foi também aí que, aos 24 anos, conheceu a pintora Fernande Olivier. Começou por ser sua modelo e depressa se tornou sua amante. Estiveram juntos sete anos, até Picasso a trair com Eva Gouel. Outra das mulheres da sua vida, Dora Maar, dizia que quando Picasso mudava de mulher, mudava também tudo o resto: até o estilo da pintura, dando origem aos vários períodos que dividem a sua obra. Por exemplo, quando Fernande entrou na sua vida, Picasso abandonou os tons azuis para se dedicar à fase rosa. Gertide Stein, amiga do pintor, define o período seguinte como mais firme e colorido: “Tinha deixado de ser um menino, era já um homem”, conta a historiadora Paula Izquierdo em Picasso e as Mulheres.
Com a morte de Eva Gouel, entrou numa espiral de relações amorosas que apenas terminou quando conheceu a bailarina Olga Koklova. Mais uma vez, a arte de Picasso sofreu uma reviravolta. Adoptou o estilo clássico. Cassaram-se em 1818.
Com Olga, o artista começou a frequentar a alta sociedade. Foram viver para perto dos Campos Elíseos. As cenas de ciúme eram constantes. Tiveram um filho, Paulo, que nasceu em 1921, mas nem por isso deu estabilidade ao casal. Dois anos depois, a antiga bailarina já não era a musa inspiradora dos quadros de mulheres belas. Em vez disso, tornou-se no modelo para os monstros que Picasso reproduziu na tela, de rostos torcidos e bocas desdentadas. Durante muitos anos, Olga perseguiu, literalmente, Picasso. Talvez por isso, o pintor nunca tratou bem o filho. Contratou-o como motorista mas, por vezes, recusava pagar-lhe o ordenado afirmando que ele não servia para nada, tal como Marina Picasso (filha de Paulo) confidencia no livro Meu Avô, Pablo Picasso: “ Ele submeteu-nos ao seu domínio, é um manipulador, um déspota, um destruidor e um vampiro.” Olga e Picasso separam-se em 1925, mas o divórcio só foi formalizado em 1935, quando nasceu Maya, a filha que teve com Marie-Thérese, a paixão seguinte.
Entretanto conheceu Dora Maara, uma fotógrafa jugoslava que também veio a ser sua amante. Foi ela quem documentou a evolução de uma das obras-primas de Picasso, Guernica, um hino contar a guerra. Em 1943, a pintora Françoise Gilot passou a ser o seu objecto amoroso. Quando a conheceu, ela tinha 17 anos. Juntos tiveram dois filhos, Claude e Paloma. Mesmo velho, continuou a produzir e a expor com força e quantidade impressionantes.
Jacqueline Roques entrou na sua vida em 1952. Picasso tinha 71 anos e ela 27. Ficaram juntos 20 anos, numa das épocas mais produtivas do pintor. Ela foi Madame Z. A última letra do alfabeto. A última mulher. Tratava-o por monseigneur. Foi responsabilizada pelo afastamento do mestre da sua família. Nem mesmo depois da morte de Picasso ela cedeu: Pablito, o neto, foi impedido de assistir ao funeral do avô. Picasso morreu a 8 de Abril de 1973, com 91 anos.

Revista Sábado edição nº 129